domingo, 4 de agosto de 2013

Jovens e idosos Receio do Santo Padre atinge a todos os países

Apesar de o Papa ter afirmado não conhecer a realidade brasileira, declarações alcançam o País

Embora tenha alertado para o "descarte" de jovens e idosos na geração de empregos em todo o mundo, em especial na Europa (devido à crise econômica), o papa Francisco admitiu, na mesma entrevista para o canal a cabo Globo News, não conhecer a realidade no Brasil; no entanto, conforme especialistas ouvidos pela reportagem, a preocupação do pontífice também se aplica aos brasileiros.

No Brasil, em junho, a desocupação entre pessoas de 18 a 24 anos ficou registrada em 14,1%, índice superior aos 13,6% verificados em maio, e aos 13% anotados em junho do ano passado, segundo o IBGE FOTO: ALEX COSTA

Em nível de comparação, as taxas de desemprego entre os jovens europeus de até 25 anos chegaram, em maio, a 59%, na Grécia; 56%, na Espanha; e 42%, em Portugal, os resultados mais alarmantes. No Brasil, em junho, a desocupação entre pessoas de 18 a 24 anos ficou registrada em 14,1%, índice superior aos 13,6% verificados em maio, e aos 13% anotados em junho do ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A diferença, de acordo com o professor de sociologia da UFC André Haguette, é que, no Velho Continente, o problema está ligado a uma crise econômica passageira, enquanto, no Brasil, a juventude sofre com falta de educação. "Os jovens não conseguem trabalho não apenas por falta de experiência, mas também porque não tiveram uma qualificação adequada. Não falta emprego no Brasil. É o jovem que não está sendo bem preparado. Concursos são abertos e todas as vagas não são preenchidas porque o nível é baixo. Muitos não passam do ensino fundamental e acabam trabalhando em subempregos", explica.

Metodologia
Já o economista e professor do Ibmec Nelson de Sousa chamou atenção ainda para os diferentes critérios usados para mensurar o desemprego no Brasil e na Europa. "Se nós utilizássemos a metodologia de lá (Europa), nossa taxa de desocupação seria bem maior", afirma. Para o IBGE, o cidadão que desempenha qualquer atividade produtiva, por mais informal que seja, é considerado empregado, mesmo que, para isso, ele não cobre alguma remuneração.

Erle Mesquita, analista de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), lembra que, entre os jovens brasileiros, há também uma maior rotatividade, o que explicaria, segundo ele, os níveis de desocupação superiores à média. "Eles estão entrando e saindo o tempo todo, há também uma maior concorrência entre os mais novos", argumenta.

Idosos e experiência
No caso dos mais velhos, Haguette observa que, no Brasil, é comum que muitos idosos empregados e bem remunerados sejam demitidos para dar lugar a profissionais mais novos (acima dos 25, neste caso) e com salários mais baixos.

"O ideal é que, como disse o Papa, os mais velhos sejam aproveitados para repassar sua experiência aos que estão começando", sugere.

Mesquita aponta ainda que esta marginalização dos idosos tem resultados em atividades realizadas por conta própria, nesta faixa etária. "Hoje, mais da metade das pessoas que são autônomas tem mais de 40 anos", informa.

Aposentadoria
Para Sousa, a aposentadoria no País também é algo que precisa ser revisto.

"É absolutamente ridícula. Na hora que o cidadão mais precisa de ajuda, após anos e anos de serviços prestados, ele passa por dificuldades, caso não tenha condições de bancar uma previdência privada", critica o economista do IDT.

Baixo desemprego deve perder força
Em meio a um cenário de inflação elevada (6,7% nos últimos 12 meses até junho), aumento da taxa básica de juros para 8,5%, crescimento pífio de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB)em 2012 e uma baixa previsão de pouco mais de 2% para este ano, o governo federal, até agora, vem se segurando na taxa de desemprego, hoje em 6% para todas as idades, para manter um posicionamento otimista em relação ao futuro econômico.

No entanto, economistas acreditam que é justamente este cenário nada favorável que contribuirá para um desaquecimento do mercado de trabalho nos próximos meses, resultando em maior desocupação entre brasileiros, o que, de certa forma, já vem acontecendo. A taxa de 6%, anotada em junho, representa a 6ª vez seguida que o desemprego não cai no Brasil e é o maior patamar desde abril de 2012. Em maio, o índice ficara em 5,8%. "Todos estes indicadores negativos geram uma menor confiança entre os investidores e empresários, e é a confiança deles que puxam novos investimentos e mais contratações. À medida que o momento fica ruim, tudo trava e eles guardam o dinheiro para um melhor momento, porque eles não querem perder dinheiro. Isso gera demissões", prevê Sousa.

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 4% em julho ante junho, de 103,8 pontos para 99,6 pontos, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O indicador leva em consideração fatores como estoque, faturamento, geração de empregos e expectativas para os próximos meses. A confiança do setor de serviços atingiu em julho o menor nível desde junho de 2009. O Índice de Confiança de Serviços teve queda de 6,4% e chegou a 111,7 pontos, próximo aos 110,2 do sexto mês de 2009.

Para o economista e professor da Universidade de Fortaleza Ricardo Eleutério, o Brasil passa por um momento de desaceleração da economia, e concorda que o cenário aponta para elevação das taxas de desemprego.

"A indústria passa por problemas de competitividade, há uma pressão inflacionária, o dólar está subindo, tudo isso contribui", avalia Eleutério.

Otimismo
Apesar disso, o analista de mercado Erle Mesquita acredita que a geração de empregos no Brasil, e também em Fortaleza, deverá passar, neste segundo semestre, por uma fase de revigoramento.
Atenção aos pobres e necessitados é a tônica
No momento em que foi eleito pontífice da Igreja Católica, o argentino Jorge Mario Bergoglio recebeu o seguinte conselho do cardeal brasileiro Cláudio Hummes: "não se esqueça dos pobres". Desde que assumiu, pelo menos em seus discursos, Francisco tem seguido a recomendação, ganhando com isso o apelido de "papa dos pobres".

Conforme os estudiosos, a manifestação do Papa também acaba repercutindo nas classes políticas, a fim de atender às demandas sociais FOTO: JULIANA VASQUEZ

No último dia 27 (sábado), ainda no Rio de Janeiro, ele pediu ao clero católico que deixe a zona de conforto e o isolamento para sair às ruas e servir os mais pobres e necessitados.

"É nas favelas que nós devemos ir procurar e servir a Cristo", lembrou. "Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta a fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados", ressaltou o santo padre, que, não por acaso, decidiu que seria chamado pelo primeiro nome de Francisco de Assis, frade que ficou conhecido por abandonar todos os seus bens materiais para se dedicar a uma vida em favor dos mais pobres.

Influência sobre a sociedade
João Mário de França, economista e coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que, embora o sermão de Francisco seja direcionado aos católicos, existe nele, também, uma influência positiva sobre a sociedade como um todo. "No momento em que o papa coloca o tema da pobreza em pauta, isto tem uma repercussão muito maior, principalmente em um país como o Brasil, onde há uma predominância do catolicismo", disse.

"Isto também acaba repercutindo nas classes políticas, a fim de atender às demandas sociais", explica o professor. Para João Mário, a influência é ainda mais forte no Nordeste, onde a pobreza é mais alarmante e onde o catolicismo também está muito presente.

Em Fortaleza, o cenário é preocupante. Um levantamento do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) aponta que, dos 184 municípios do Ceará, a Capital apresenta o maior número de pessoas em situação de extrema pobreza: 133,9 mil. Entende-se por extrema pobreza uma renda familiar mensal inferior a R$ 70,00 "per capita".

Em todo o Ceará, 1,5 milhão de pessoas vivem na mesma condição. A pesquisa levou em consideração dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, referentes ao Censo de 2010.

O Brasil, por sua vez, contabiliza, também segundo o Censo de 2010, cerca de 16,2 milhões de pessoas extremamente pobres, sendo o Nordeste a região do País que mais sofre com a o problemática, concentrando 59,1% (9,61 milhões).

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