Para os especialistas, as colocações do Papa são válidas tanto ao País como se aplicam a qualquer outra parte
Para o professor de sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) André Haguette, o modelo capitalista adotado pelo mundo ocidental não é compatível com os valores humanistas defendidos pelo papa Francisco. "Na Igreja, existe uma ética fraternal que busca a solidariedade, a compaixão, a proximidade com o outro. Enquanto isso, o capitalismo procura o lucro através do aumento da produção, e é evidente que, numa sociedade produtiva, não há lugar para tais valores da Igreja, pois é uma sociedade que torna a vida fria", avalia o professor.
Conforme o Papa, movimentação das Bolsas tem mais espaço na mídia Foto: Divulgação
Em resposta à declaração do pontífice de que "hoje, quem manda é o dinheiro", Haguette lamenta ter que concordar. "Uma pessoa te presta um favor e te cobra 10% do que você ganhou, ou cobra uma retribuição em dinheiro, tem que haver uma recompensa financeira. Aí chega um jovem e diz que quer ser médico, mas ele não quer ser médico para ajudar as pessoas, mas sim porque é uma profissão que paga bem", critica.
"Este apego ao dinheiro é menos comum entre os mais pobres. Quanto mais rico você é, mais valor ao dinheiro você vai dar. Por exemplo, se uma pessoa convida outra para jantar, já está subentendido que a conta será dividida, para que não haja prejuízo a ninguém", afirma.
A serviço das pessoas
O padre e professor de filosofia e teologia da Faculdade Católica de Fortaleza Evaristo Marcos disse que o foco da discussão não deve ser qual modelo econômico seguir, mas sim como ele vai atingir as pessoas. "O papa Francisco, quando fala em um ´humanismo desumanizado´ (também na entrevista à TV Globo), ele se refere ao fato da economia só olhar para o homem pelo ângulo da sua capacidade de produção. É preciso colocar nossos bens materiais a serviço das pessoas. Na hora em que o dinheiro não é colocado a serviço das pessoas, ele perde sua razão", explica o religioso.
Na visão de Nelson de Souza, economista e professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), o puxão de orelha do santo padre é válido e se aplica ao Brasil e a qualquer lugar do mundo.
Cultura do provisório
"As pessoas esperam o lucro e o acúmulo de riquezas, mas buscam isso através de uma cultura do provisório, querem se dar bem agora, esquecem que isso tudo acaba, elas querem prosperar sem pensar naquilo que é duradouro, ou seja, o bem estar da sociedade como um tudo", critica Nelson. "As classes que desfrutam de um certo conforto, que estão bem posicionadas e vislumbram o progresso, não têm consciência preparada para abrir mão disso em favor de uma causa maior. É como diz uma citação bíblica, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os pecados", afirma o economista.
Para o professor de sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) André Haguette, o modelo capitalista adotado pelo mundo ocidental não é compatível com os valores humanistas defendidos pelo papa Francisco. "Na Igreja, existe uma ética fraternal que busca a solidariedade, a compaixão, a proximidade com o outro. Enquanto isso, o capitalismo procura o lucro através do aumento da produção, e é evidente que, numa sociedade produtiva, não há lugar para tais valores da Igreja, pois é uma sociedade que torna a vida fria", avalia o professor.
Conforme o Papa, movimentação das Bolsas tem mais espaço na mídia Foto: Divulgação
Em resposta à declaração do pontífice de que "hoje, quem manda é o dinheiro", Haguette lamenta ter que concordar. "Uma pessoa te presta um favor e te cobra 10% do que você ganhou, ou cobra uma retribuição em dinheiro, tem que haver uma recompensa financeira. Aí chega um jovem e diz que quer ser médico, mas ele não quer ser médico para ajudar as pessoas, mas sim porque é uma profissão que paga bem", critica.
"Este apego ao dinheiro é menos comum entre os mais pobres. Quanto mais rico você é, mais valor ao dinheiro você vai dar. Por exemplo, se uma pessoa convida outra para jantar, já está subentendido que a conta será dividida, para que não haja prejuízo a ninguém", afirma.
A serviço das pessoas
O padre e professor de filosofia e teologia da Faculdade Católica de Fortaleza Evaristo Marcos disse que o foco da discussão não deve ser qual modelo econômico seguir, mas sim como ele vai atingir as pessoas. "O papa Francisco, quando fala em um ´humanismo desumanizado´ (também na entrevista à TV Globo), ele se refere ao fato da economia só olhar para o homem pelo ângulo da sua capacidade de produção. É preciso colocar nossos bens materiais a serviço das pessoas. Na hora em que o dinheiro não é colocado a serviço das pessoas, ele perde sua razão", explica o religioso.
Na visão de Nelson de Souza, economista e professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), o puxão de orelha do santo padre é válido e se aplica ao Brasil e a qualquer lugar do mundo.
Cultura do provisório
"As pessoas esperam o lucro e o acúmulo de riquezas, mas buscam isso através de uma cultura do provisório, querem se dar bem agora, esquecem que isso tudo acaba, elas querem prosperar sem pensar naquilo que é duradouro, ou seja, o bem estar da sociedade como um tudo", critica Nelson. "As classes que desfrutam de um certo conforto, que estão bem posicionadas e vislumbram o progresso, não têm consciência preparada para abrir mão disso em favor de uma causa maior. É como diz uma citação bíblica, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os pecados", afirma o economista.
Banco do Vaticano também é desafio
Fundado pelo papa Pio XII em 1942, o IOR (Instituto para as Obras da Religião) - chamado Banco do Vaticano - tem uma trajetória ligada a escândalos. Um dos casos mais rumorosos foi a quebra do Banco Ambrosiano, de Roberto Calvi, em 1982. Conhecido como "o banqueiro de Deus" por suas ligações com o Vaticano, ele apareceu enforcado sob uma ponte em Londres.
O Vaticano anunciou na última segunda-feira (29) que assinou acordo sobre a troca de informações financeiras e bancárias com a Itália para combater a lavagem de dinheiro FOTO: AGÊNCIA REUTERS
Dez anos mais tarde, peritos italianos descartaram a hipótese de suicídio. Os legistas, segundo elementos publicados pela imprensa italiana na ocasião, destacaram a ausência das lesões que a corda deveria ter causado ao banqueiro, que pesava cerca de 90 quilos. As mãos de Roberto Calvi também não tinham traços do pó que deveriam deixar os tijolos que foram encontrados em seus bolsas, nem do óxido de ferro que deveria ter ao amarrar a corda à ponte de ferro.
"Por trás da máfia há alguém", afirmou Carlo, filho de Calvi, convencido de que mafiosos haviam assassinado seu pai. O então presidente do IOR, o arcebispo Paul Marcinkus, foi indiciado na Itália em 1987 pela sua conexão com o colapso do Banco Ambrosiano, mas nunca chegou a ser levado a julgamento, por causa de sua posição no Vaticano.
Em 2010, novo escândalo. A Justiça italiana ordenou a apreensão de € 23 milhões de euros do Banco do Vaticano. Agentes da polícia tributária providenciaram o sequestro preventivo dessa quantia depositada numa conta do banco Credito Artigiano, por ordem de um tribunal de Roma que investigava a omissão por parte do IOR de dados obrigatórios quanto à identidade das pessoas efetuando transações financeiras A suspeita na época era de que o IOR recebesse depósitos de importantes somas de procedência duvidosa, na gestão de Ettore Gotti Tedeschi, demitido em 2012 por má administração.
No início desta semana, o papa Francisco disse que o banco do Vaticano deve se tornar "honesto e transparente" e que ele vai ouvir o conselho de comissão formada para determinar se a instituição pode ser reformada ou deve ser fechada.
Acordo
O Vaticano anunciou na última segunda-feira (29) que assinou acordo sobre a troca de informações financeiras e bancárias com a Itália para combater a lavagem de dinheiro, confirmando reportagem da Reuters na semana passada. O Vaticano está realizando reformas em seu banco, o Instituto para Obras da Religião (IOR), cuja reputação foi maculada por três décadas de escândalos.
Na última quinta-feira (1), o banco anunciou que seu lucro, em 2012, chegou a 86,6 milhões de euros, um salto de 327% sobre o apurado em 2011. Pela primeira vez, a instituição financeira da mais poderosa entidade religiosa do mundo divulgou seus resultados, vencendo umas dificuldades que o papa Francisco enfrentaria em seu papado.
Fundado pelo papa Pio XII em 1942, o IOR (Instituto para as Obras da Religião) - chamado Banco do Vaticano - tem uma trajetória ligada a escândalos. Um dos casos mais rumorosos foi a quebra do Banco Ambrosiano, de Roberto Calvi, em 1982. Conhecido como "o banqueiro de Deus" por suas ligações com o Vaticano, ele apareceu enforcado sob uma ponte em Londres.
O Vaticano anunciou na última segunda-feira (29) que assinou acordo sobre a troca de informações financeiras e bancárias com a Itália para combater a lavagem de dinheiro FOTO: AGÊNCIA REUTERS
Dez anos mais tarde, peritos italianos descartaram a hipótese de suicídio. Os legistas, segundo elementos publicados pela imprensa italiana na ocasião, destacaram a ausência das lesões que a corda deveria ter causado ao banqueiro, que pesava cerca de 90 quilos. As mãos de Roberto Calvi também não tinham traços do pó que deveriam deixar os tijolos que foram encontrados em seus bolsas, nem do óxido de ferro que deveria ter ao amarrar a corda à ponte de ferro.
"Por trás da máfia há alguém", afirmou Carlo, filho de Calvi, convencido de que mafiosos haviam assassinado seu pai. O então presidente do IOR, o arcebispo Paul Marcinkus, foi indiciado na Itália em 1987 pela sua conexão com o colapso do Banco Ambrosiano, mas nunca chegou a ser levado a julgamento, por causa de sua posição no Vaticano.
Em 2010, novo escândalo. A Justiça italiana ordenou a apreensão de € 23 milhões de euros do Banco do Vaticano. Agentes da polícia tributária providenciaram o sequestro preventivo dessa quantia depositada numa conta do banco Credito Artigiano, por ordem de um tribunal de Roma que investigava a omissão por parte do IOR de dados obrigatórios quanto à identidade das pessoas efetuando transações financeiras A suspeita na época era de que o IOR recebesse depósitos de importantes somas de procedência duvidosa, na gestão de Ettore Gotti Tedeschi, demitido em 2012 por má administração.
No início desta semana, o papa Francisco disse que o banco do Vaticano deve se tornar "honesto e transparente" e que ele vai ouvir o conselho de comissão formada para determinar se a instituição pode ser reformada ou deve ser fechada.
Acordo
O Vaticano anunciou na última segunda-feira (29) que assinou acordo sobre a troca de informações financeiras e bancárias com a Itália para combater a lavagem de dinheiro, confirmando reportagem da Reuters na semana passada. O Vaticano está realizando reformas em seu banco, o Instituto para Obras da Religião (IOR), cuja reputação foi maculada por três décadas de escândalos.
Na última quinta-feira (1), o banco anunciou que seu lucro, em 2012, chegou a 86,6 milhões de euros, um salto de 327% sobre o apurado em 2011. Pela primeira vez, a instituição financeira da mais poderosa entidade religiosa do mundo divulgou seus resultados, vencendo umas dificuldades que o papa Francisco enfrentaria em seu papado.
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